terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Primeiros passos de uma Bióloga marinha, no Sul de França, com casa a 10 minutos do mar...

.... horta na varanda. E é a isto que nós chegamos!


Seria de esperar que uma pessoa que tirou a licenciatura no Instituto Superior de Agronomia soubesse pelo menos como começar uma sementeira. Ok, estudei biologia, mas mesmo assim, o nome acarreta algum peso, principalmente porque falávamos muito de plantinhas. Pronto, a parte da terra eu sabia, e que tinha de pôr sementes também. Agora, quando me vi com as sementes na mão, pensei: "mas agora quantas coloco em cada buraquinho?". Não foi uma mão cheia delas, digamos que foram algumas, sem exagerar, para o caso de dar para o torto e ter algumas de reserva. 
Para já, arrisquei no tomilho e na salsa. Aparentemente, este não seria o período ideal para semear, mas como a minha casa é uma pequena estufa, e com as minhas palavras de incentivo (em que língua devo falar com elas, português, italiano, francês?), acredito que vá ter sucesso. Espero mesmo ter sucesso, porque por muito simpáticas que as senhoras do mercado possam ser, salsa é só a pagamento!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Civilizados?! Deixam a m**** por todo o lado!

O que separa Países Desenvolvidos de Países em Desenvolvimento? Certamente muita coisa. O que separa Países Desenvolvidos de se tornarem em Desenvolvimento? É simples, Países com pessoas que não desenvolveram.
Quando mudamos de País, na perspectiva de ser para melhor, no meu caso, Portugal para França, chegamos "à casa" nova com muitas expectativas. Pelo menos esperamos algo melhor do que no nosso lar anterior. Eu pensei: "a ver vamos como é viver num país dito civilizado, de pessoas educadas". Pelo menos era mais ou menos esta a fama que os franceses tinham para mim, exceptuando pormenores de "baguettes" debaixo do sovaco. A verdade é que a minha primeira e única experiência em França até agora tinha sido em Paris, mas fiquei tão deslumbrada com a cidade, que não reparei em pormenores desagradáveis. Bem, estar de férias, ou ir viver permanentemente para um sítio são coisas completamente opostas. E é este oposto que me encontro a viver, em Nice. Para aqueles que me pretendem visitar, tenho coisas boas a dizer da cidade, não se preocupem, isto são só desabafos de rapariguinha portuguesa emigrada em França, que pensava que os portugueses eram muito complicados. Afinal, até somos pessoas normais.

Tudo começou meses atrás, aquando da minha chegada à terra dos ricos, dos iates, dos ferraris, entre outras coisas. Como vivemos num mundo bastante DESENVOLVIDO tecnologicamente pareceu-me por bem instalar internet e telefone em casa, para poder contactar aqueles que a tanto custo deixei em casa. Um mês e 10 dias foi o que demorei para conseguir ter acesso a estas extravagâncias (a parte do iate, deve demorar um bocadinho mais), não sem antes, por duas vezes os técnicos que deviam vir activar a linha telefónica não tenham aparecido. Sim, leram bem, nos países desenvolvidos eles não aparecem, são um bocadinho diferentes daqueles da zon ou da meo, que no máximo só se atrasam. A primeira desculpa é sem dúvida a mais interessante não encontraram a casa. Pelo cor carregada do prédio onde habito, eu diria que  está aqui pelos menos à 100. Como julgo que seja improvável que um técnico tenha mais de 100 anos, diria que o mais fácil seria consultar um mapa. Eu até admito que possa ser difícil encontrar a casa, uma vez que a porta da rua está numa outra rua, mas como se salta do 27 para o 31, sem nada no meio, pelo menos eu teria ficado curiosa em espreitar (pelo menos depois de ter visto os filmes do Harry Potter e a sua plataforma 9 3/4). A segunda desculpa foi mais simples, tivemos um problema! À terceira lá consegui que o técnico aparecesse, esteve cá 5 minutos, foi eficiente. Para meu espanto, não trouxe os aparelhos tipo telefone, modem, essas coisas básicas que nos permitem aceder aos serviços que contratamos. Parece que durante aquele mês de espera, devia ter chegado pelo correio. Ou será que o correio também não sabia onde ficava a casa?! A certa altura comecei a ficar intrigada. De um modo muito simpático, a loja onde tínhamos contratado este "serviço desenvolvido" facultou-nos o aparelho que nos permitia ao menos ter internet, enquanto o nosso não chegava. Ah, neste pacote deveria também estar incluída a box da televisão. Curiosamente, o material que faltava chegou na mesma altura que uma encomenda vinda de Portugal. Pronto, tenho de admitir, eles são mais desenvolvidos numa coisa, trazem as encomendas (nesta caso a de Portugal com quase 7 quilos) a casa.
E pronto, finalmente, depois de um mês e 10 dias a coisa ficou resolvida, não sem antes umas ofensas portuguesas proferidas em silêncio (em francês ainda só conheço "merde", mas eles dizem isto de um modo tão fino que nem parece ofensivo) contra os senhores da Orange, os tais, pouco desenvolvidos.

Nas duas primeiras facturas não nos cobraram os serviços de internet+telefone+tv. Pensei: "epa, isto em Portugal não acontecia", ou pelo menos tínhamos de pagar e depois de uma brilhante reclamação lá nos reembolsam. Mas não é que agora, depois das belas "férias" passadas em Portugal, os sacanas me apresentam uma factura em que tenho de pagar 69 euros porque um técnico veio a minha casa e eu não estava! Isto, sem eu ter pedido um técnico! E 3 semanas depois de eu já ter internet+telefone+tv a funcionar. É que é preciso ter lata! Lá fui eu, com o meu francês alternativo, telefonar para os serviços da Orange, para tentar responder o problema. Após ter conseguido expressar condignamente o meu problema, dizem-me que como não sou o "Monsieur Di Franco", não me podem ajudar. Para me poderem ajudar, o titular do telefone tem que lhes dizer "Bounjour, je suis Monsieur Di Franco". Ou isso, ou posso experimentar fazer voz de homem. Gente complicada!

Ah, as outras falhas de desenvolvimento são pequenas coisa do género: ultrapassarem-te nas filas do mercado, serem os primeiros a subir para o autocarro mesmo que tenham sido os últimos a chegar e estejam 10 pessoas à frente e claro, a bela da merda de cão espalhada por toda a cidade. A minha contagem vai em duas escorregadelas. Tive sorte, não eram daqueles quase líquidas, e consegui manter-me em pé.




sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Fui a Palermo, voltei, e não virei palerma


Depois de 6 meses de aventura em Lecce, regressar a Itália é sempre um deleite. É fácil sentirmo-nos em casa, até nas coisas más.

Palermo para muitos poderia ser significado de insegurança, não fosse a máfia siciliana tão bem documentada em filmes como “O Padrinho”.  Totalmente errado. Dia e noite a cidade é bastante movimentada. Turistas, locais, passeiam-se pelas ruas, alimentando-se em pequenos mercados ambulantes onde se vendem iguarias tradicionais. É fácil ambientarmo-nos ao ritmo da cidade. Mais difícil, diria mesmo que, impossível, é sentirmo-nos confortáveis com o trânsito local. São muitas as famosas “Vespas” que se deslocam na cidade; motas, carros e pessoas “atropelam-se” pela cidade. Regras, essas, para que servem, senão para quebrar. Atravessar a estrada pode ser um autêntico desafio.
Por muito espectacular que seja deambular por uma cidade e conhecê-la livremente, conhecer alguém local é sempre uma grande vantagem. Seja por darem a conhecer locais estratégicos a visitar, ou o que experimentar da cozinha tradicional (acima de tudo, onde a comer). Não visitei tudo o que havia para visitar, mas como não podia deixar de ser, provei tudo o que era essencial.

Ementa:
Pasta al forno           Pasta col battutino                   Pasta con le sarde
Pasta con l’anciova               Sarde a beccafico               Capone fritto
Pesce spada al ragù               Caponata di melanzane e di pesce spada
Arancine al burro e alla carne           Musso, masceddaro e carcagnole
Sfincione / Sfincione alla ricotta                               Stigghiola            
Panele                 Crocchè di patate
Gelo di mellone               Mangia e beve                 Cannolo                              
Cassata/ Cassata al forno           Setteveli                                            
Sfincia con ricotta                           Gelato di pistacchio

Em Palermo existem muitas coisas para ver como, a Catedral, mercados famosos, ruas e vielas um pouco a fazer recordar Lisboa. Existem ainda muitos prédios deteriorados, outros muito velhos, com aspecto exterior duvidoso, mas que por dentro são autênticos palácios. À volta, existe a bela praia do Mondelo, e muitas montanhas por explorar.
Palermo, paraíso virado para o mar, rodeado por montanhas. 

domingo, 22 de maio de 2011

Portugal numa caixinha

No outro dia recebi uma pequena caixa de plástico. O que trazia lá dentro? Nada mais nada menos que umas pequenas maravilhas gastronómicas do nosso querido país. Ah, há quanto tempo que não comia um pastel de nata! Tivemos também direito a uma ferradura, pastel de amêndoa e um "beijinho" das Caldas. Pequenas iguarias, trazidas numa caixinha, mas capazes de despertar a saudade do nosso País. 
Com esta caixinha, gerou-se uma pergunta engraçada. Se um dia partires para o estrangeiro, e te derem uma caixinha (mais ou menos com 400 ml), o que é que punhas lá dentro para te lembrares do teu país?
Algumas das ideias que surgiram: tubo de ensaio com água do mar, pastel de nata, uma rolha, areia, esteva, queijada de sintra. No final, e porque a política nestes dias está a dar-nos em doidos, a caixa teria de ficar bem fechada, para não deixar o Sócrates entrar.





segunda-feira, 11 de abril de 2011

Com que direito a vida nos é roubada aos 23 anos de idade?

Quando pensamos que tudo está bem, quando nos encontramos simplesmente a desfrutar dos prazeres da vida, somos subitamente acordados para o que a vida tem de mais cruel, a perda. Num piscar de olhos, vidas são-nos roubadas, amigos perdidos que, agora, só a memória nos permite conservar e recordar. 

Não é difícil recordar a última vez que estivemos juntas. Estavamos as 4, Rita, Vânia, eu, e.... tu, a desfrutar da companhia umas das outras e a pensar no que seria o nosso futuro. Nenhuma de nós parecia parada no tempo, todas com planos, ideias, sonhos. Ontem, hoje e amanhã choramos de tristeza por não puderes fazer parte do nosso futuro, das nossas alegrias e tristezas, mas acima de tudo por o teu futuro te ter sido roubado.

Descansa em paz Mantorras (esse teu joelho nunca me enganou).

Um zero 
(como só tu me tratavas)
Quando tudo começou...


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lesma em forma

Burocracia, direcções erradas, para aqui, para ali, para acolá, tamanha confusão só para obter um atestado médico. Isto porque, as tentações, culinárias, em Itália, são muitas e não há quem resista. É que são "pasticiotti" ( o bolo tradicional aqui em Lecce), os belos dos cornetto (não, não são os gelados da olá, mas sim uns belos croissant) de Nutella - aqui a Nutella é rainha-, de "crema", já para não falar das belas das "pasta" e do que ainda está para vir, os belos dos "gelati". Por isso, há que queimar hoje, para acrescentar amanhã.
Arranjar um atestado médico revelou-se uma autêntica aventura. Primeira paragem, Hospital de Lecce (pensei que seria o único, enganei-me), após uma interminável viagem de autocarro (50 min). Pergunto-me porque é que os autocarros que vão para os hospitais, são sempre aqueles que mais voltas dão pelo centro da cidade?! Claro está, hospital errado. Após uma demorada "conversa" com estudantes e enfermeiras da ala universitária do hospital, encaminharam-nos (a mim e à Sara) para outro hospital, desta feita, o Hospital velho. Esse ficou apenas para o dia seguinte. A aventura começou bem cedo no dia seguinte, pelas 9 da manhã já andavamos a palmilhar as ruas de Lecce em busca do dito hospital. Claro está, ainda não era bem ali que nos podiam ajudar. Para termos um atestado, aparentemente teríamos de arranjar um médico de família, pelo que mais uma vez nos tivemos de deslocar para outro edifício. Novo local, imensa gente à nossa frente na fila. Com o poder que nos é concedido por sermos estudantes Erasmus, lá conseguimos passar à frente e que nos fosse explicado que afinal, bastava o cartão europeu de saúde para arranjarmos um médico. Ora bem, mas onde raio fica o centro de saúde? Não existe. Aqui o sistema é diferente, existe uma lista de médicos que dão consultas num consultório próprio, e estes estão espalhados pelas várias ruas da cidade. Escolhemos os médicos das ruas que conhecemos e lá partimos novamente à aventura. Ou não nos abriram a porta, ou só davam consultas de tarde, ou não faziam atestados médicos (mas que raio!), enfim, não foi tarefa fácil, mas após duas horas e meia de "passeio" por Lecce, encontramos um médico.
O mínimo que se pode esperar quando pedimos um atestado é que nos meçam a tensão, nos auscultem, coisas básicas. Errado! Tanto trabalho, para o médico apenas perguntar: "Tem alguma doença, já praticou algum desporto?" E pronto, dê cá os 20 euros (já com desconto), e leve lá o papel.

Temos muito a mania de dizer que em Portugal somos muito complicados, sempre com vários problemas burocráticos. Não fica longe da verdade o nosso pensamento, mas a verdade é que em Portugal, para a simples ginástica que vou fazer e para aprender a dança típica, Pizzica, bastaria assinar um termo de responsabilidade. Isto de ir para fora, faz-nos pensar nas coisas boas do país onde nascemos.

A vossa lesma

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lesma lecciana

Embora 8h e 15 minutos num comboio possa parecer uma tortura, acabou por não ser mau de todo. Grande parte do tempo foi passado a dormir até ser acordada pelo bater na porta e o primeiro "buongiorno" dos próximos seis meses. Até me trouxeram o jornal e tudo! Foi o acordar para uma nova realidade, uma nova cidade, um novo capítulo da vida da lesma. Os últimos minutos no comboio foram feitos com a ansiedade de quem não sabe o que vai encontrar.
A primeira impressão foi.... cheiro a estrume. Fiquei mais aliviada quando a Sara me comunicou não ser muito normal (ela só estava em Lecce há apenas dois dias, por isso, logo se vê).
No geral, assim à primeira vista a cidade é bastante bonita, diferente de tudo o que já vi, contrastando espaços amplos com ruas labirínticas.
Agora é altura de ambientar-me ao estilo de vida italiano (o que julgo não ser difícil), e desfrutar de mais uma aventura.
Os meus poderes de detective já estão em acção (sim, queridas meninas, não me esqueci de vocês).

A vossa lesma lecciana!